Um continente com planos ambiciosos de florestação para a bioeconomia e a recuperação de ecossistemas.
O Quénia foi o país perfeito para acolher a 5ª edição do ICPF, uma vez que se espera que a população de África aumente de 1,2 mil milhões para 2,5 mil milhões até 2050, com as necessidades associadas de construção e energia. Isto levou o Quénia a florestar milhões de hectares para passar de 6% para 10% das terras florestais até 2030, o que exige mudanças estruturais na legislação, na acessibilidade das terras, nos pomares de sementes e no aumento da capacidade de transformação da madeira. Com uma população mundial que, segundo as projecções, atingirá 9,8 mil milhões em 2050 – um aumento de quase 30% em relação aos actuais 7,6 mil milhões – as necessidades de alimentos, combustíveis, fibras e outros produtos e serviços de base biológica aumentarão acentuadamente em todo o mundo. A procura de biomassa de origem florestal aumentará, impulsionada pela construção e pelas embalagens, e a lenha continuará a ser a principal fonte de energia para muitos agregados familiares nas economias emergentes.
Simultaneamente, as alterações climáticas, a degradação dos ecossistemas e os seus impactos exigem mudanças profundas nos nossos padrões globais de produção e consumo, com bons exemplos na faixa verde do Sahara e na recuperação dos mangais. Em todo o mundo, as sociedades estão a empenhar-se na descarbonização das suas economias e na recuperação do seu ambiente – com um papel proeminente para as soluções baseadas na natureza.
As florestas plantadas são uma solução essencial baseada na natureza para satisfazer as necessidades crescentes de produtos de madeira, restaurar os ecossistemas florestais e atenuar as alterações climáticas.
No âmbito do tema das florestas plantadas, 130 participantes de 35 países reuniram-se em Nairobi para o 5º ICPF, discutindo os desafios e oportunidades globais para as florestas plantadas. O ICPF é um fórum global focado em florestas plantadas sob os auspícios da task force da IUFRO sobre florestas plantadas resilientes ao serviço da sociedade e da bioeconomia, um grupo de especialistas inclusivo liderado pelo IEFC que reúne cientistas de renome mundial, organizações do sector privado, ONGs e OIGs. O 5º ICPF foi o primeiro a ser realizado em África e foi coorganizado pelo Institut Européen de la Forêt Cultivée (IEFC), o Food and Agriculture Organization das Nações Unidas (FAO), o Center for International Forestry Research and World Agroforestry (CIFOR-ICRAF), a International Union of Forest Research Organizations (IUFRO), a rede TreeDivNet, o Kenya Forestry Research Institute (KEFRI), o Kenya Forest Service (KFS), e o Ministério do Ambiente, alterações climáticas e floreta, do Kenya.
O 5º ICPF enfatizou a importância global das florestas plantadas. As apresentações – que podem ser consultadas no sítio Web do IEFC – a visita de estudo e os debates abrangeram vários tópicos, incluindo modelos de negócio, governação e práticas inovadoras para a gestão sustentável das florestas.
As principais mensagens a reter incluem a importância do intercâmbio de conhecimentos para um grande número de tópicos:
- Adequação do local aos recursos genéticos, certificando-se de que a árvore que vai plantar estará adaptada ao clima futuro, enfrentará as pragas e as doenças, com um foco específico nos recursos genéticos em África, incluindo as espécies exóticas, e no programa de monitorização da saúde das florestas liderado pelo FISNA
- A seleção de sementes, os tratamentos de sementes e as técnicas de plantação foram discutidos no sentido de maximizar o êxito das plantações.
- Práticas silvícolas adaptadas ao produto e ao contexto: a poda é necessária para muitas espécies, mas pode ser combinada com a pastorícia, tal como ilustrado durante a visita de campo a povoamentos de Cupressus lusitanica, e as plântulas podem ser associadas a plantações de batatas na fase inicial. Muitos participantes discutiram os desafios e os benefícios potenciais das plantações mistas.
- A perceção das espécies exóticas em África, onde a escassez de madeira é um problema, é muito diferente da falta de aceitação social das plantações para biocombustível na Nova Zelândia.
- A fertilização tem sido questionada porque apresenta respostas complexas em condições de seca.
- Os serviços do ecossistema são avaliados em muitas florestas plantadas, mas o sequestro de carbono é o que exige mais esforços para obter previsões exactas para os regimes de restauro. Além disso, está a ser feito um ajuste fino para comparar o armazenamento de C em programas de restauro, utilizando muitas ferramentas, desde simples equações alométricas a modelos universais ou avaliação do ciclo de vida.
- Um dos motores da plantação de madeira em África é a procura de madeira para construção e energia, o potencial das habitações feitas de madeira e o desenvolvimento de biocarvão a partir de espécies de crescimento rápido foram abordados em muitas palestras.
- As necessidades e soluções políticas foram abordadas em muitas palestras, desde o envolvimento das comunidades, pequenos produtores, cooperativas e utilização de terras públicas. A importância das decisões políticas para assegurar a utilização das terras a longo prazo, os mercados de carbono, as infra-estruturas e o envolvimento dos proprietários privados nas florestas plantadas, evitando simultaneamente o abate ilegal de árvores nas reservas e assegurando os regimes de créditos de carbono
A sessão de encerramento, transmitida em direto, resumiu os resultados do congresso e está disponível no Youtube. Durante esta sessão, foi lançada a Unasylva #254 da FAO “Towards more resilient and diverse planted forests’’ No encerramento, os discursos de alto nível do Secretário do Gabinete do Ministério do Ambiente e das Alterações Climáticas do Quénia, do CEO do CIFOR-ICRAF e do representante da FAO no Quénia sublinharam o compromisso de apoiar iniciativas como a campanha dos 15 mil milhões de árvores do Quénia e a Década das Nações Unidas para a Restauração dos Ecossistemas.
O congresso foi enriquecido por dois eventos liderados pela FAO. Durante o pré-evento sobre ‘’Unlocking finance for sustainable and inclusive wood value chains’’, as apresentações e os debates abrangeram três segmentos-chave da cadeia de valor da madeira: (1) Desenvolver mercados finais para a madeira sustentável – o mercado da madeira no sector da construção; (2) Transformar a madeira para acrescentar valor, eficiência e como incentivo à expansão das áreas florestais; e (3) Produzir madeira de forma sustentável, responsável e inclusiva, com especial destaque para o papel dos pequenos produtores florestais e agrícolas. O evento contou com a presença de cerca de 80 participantes e foi coorganizado pela FAO, ICRAF, Embaixada da Suécia, Gatsby Africa, KFS e KEFRI.
Além disso, a Forest Invasive Species Network for Africa (FISNA), realizou um evento paralelo intitulado “Enhancing forest resilience to invasive species and climate change impacts – tools for early warning”, que reuniu 15 pontos focais e membros de 12 países da região para debater a saúde das florestas na África Subsariana e partilhar conhecimentos sobre os desafios e benefícios associados à utilização de sistemas de vigilância da saúde das florestas.
Este evento frutuoso levou a trocas construtivas e gerou muitas oportunidades de projectos, numa atmosfera positiva. Uma segunda oportunidade para os participantes que perderam esta oportunidade no Quénia será a participação no congresso mundial da IUFRO de 2029!
Veja o vídeo oficial do evento da ICPF 2023
Mais informações:
Sítio Web do ICPF: http://icpf2023.plantedforests.org
Gravação da sessão de encerramento do ICP: https://www.youtube.com/watch?v=KkC6NvJIVd8&ab_channel=CIFOR-ICRAF
Unasylva #254 ‘’Towards more diverse and resilient planted forests’’: https://www.fao.org/documents/card/en?details=cc8584en
FISNA: https://www.fao.org/forestry/fisna/en/
Unlocking finance for sustainable and inclusive wood value chains: https://www.fao.org/forest-farm-facility/news-and-events/news-detail/en/c/1661552/
Christophe Orazio, IEFC