O Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) publicou recentemente um relatório sobre os impactos, adaptação e vulnerabilidade da sociedade e dos ecossistemas às alterações climáticas. Representa a contribuição do Grupo de Trabalho II para o Sexto Relatório de Avaliação. O relatório completo, o “Summary for Policymakers” e o “Technical Report” podem ser encontrados em https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg2/ e os recursos, incluindo apresentações e multimédia, estão disponíveis em https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg2/resources/presentations-and-multimedia
O relatório expõe em termos muito sombrios as consequências do aumento contínuo das temperaturas globais. Em particular, foca as consequências do aumento da temperatura para 1.5OC acima das temperaturas pré-industriais (o aumento atual é de 1.5OC). Muitos destes impactos manter-se-ão mesmo que o aumento da temperatura regresse subsequentemente a valores inferiores a 1.5OC.
Para as florestas haverá mudanças na estrutura e fenologia dos ecossistemas em todo o lado, com as mudanças particularmente fortes na região mediterrânica e nas regiões montanhosas. Para alguns ecossistemas, um aumento da temperatura acima de 1.5OC desencadeará um ponto de viragem e haverá uma perda irreversível dos serviços do ecossistema. Já existe um claro impacto económico em sectores expostos ao clima com efeitos regionais na silvicultura. Há também provas de perdas crescentes devido ao efeito combinado do calor, condições de secura e clima extremo.
O relatório sugere que há claros progressos no planeamento e implementação de medidas de adaptação com a consequente geração de múltiplos benefícios. Para a silvicultura, isto requer o desenvolvimento de uma gestão florestal sustentável, diversificando e ajustando a composição das espécies arbóreas para construir resiliência, e gerindo o risco acrescido de pragas, doenças e vários perigos abióticos. Contudo, o progresso destas medidas de adaptação não está distribuído de forma equilibrada havendo muitas iniciativas que dão prioridade à redução do risco climático imediata e de curto prazo, o que reduz a oportunidade de adaptação transformacional a longo prazo. Há também provas crescentes de má adaptação em alguns sectores e regiões que concentram vulnerabilidades que serão difíceis e dispendiosas de mudar no futuro dada a exposição e os riscos a que estão sujeitos.
O relatório indica que os impactos das alterações climáticas estão a tornar-se cada vez mais complexos e difíceis de gerir. Os múltiplos riscos climáticos ocorrerão simultaneamente e haverá múltiplas e complexas interações com a consequente cascata de riscos entre sectores e regiões. Há uma necessidade crescente de ações de desenvolvimento resistentes ao clima a nível mundial e este desenvolvimento requer a cooperação internacional dos governos que trabalham com comunidades, sociedade civil, organismos educacionais, instituições científicas, meios de comunicação, e o mundo empresarial. É também evidente que a salvaguarda da biodiversidade e dos ecossistemas é fundamental para o desenvolvimento resiliente ao clima. Isto sublinha o papel fundamental da silvicultura na ajuda à nossa adaptação às alterações climáticas e a necessidade crucial de desenvolver sistemas florestais resilientes que possam continuar a fornecer serviços do ecossistema mesmo com um nível crescente de riscos bióticos e abióticos.
Barry Gardiner (IEFC)