Após um período superior a 3 anos de trabalho colaborativo sobre o tema das florestas complexas e mistas, o projeto COMFOR-SUDOE, envolvendo 9 parceiros de Portugal, Espanha e França, terminou a 13 de abril de 2023, num simpósio final realizado no Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid (coordenador do projeto). Esta conferência e o presente artigo constituem uma oportunidade para rever os principais resultados do projeto.
As florestas complexas são definidas pela sua heterogeneidade estrutural, quer em termos de diversidade de espécies mistas, quer em termos de diversidade de classes de idade. É esta diversidade taxonómica e estrutural que torna estas florestas mais resistentes, prestando serviços ecossistémicos de melhor qualidade e gozando de maior aceitação social.
Melhorar a Identificação e caraterização das florestas complexas
O projeto visou inicialmente uma melhor identificação e caraterização das florestas complexas na Europa, utilizando bases de dados acessíveis ou ferramentas de teledeteção. A utilização dos Inventários Florestais Nacionais terá permitido desenvolver uma tipologia florestal baseada na organização vertical das espécies florestais, ou descrever melhor as florestas mistas em Portugal. Graças a este trabalho, o simples conhecimento da área basal permite prever o efeito da mistura sobre uma dada espécie. Por exemplo, o eucalipto apresenta preferência em crescer sozinho, sendo que a sua área basal, quando em mistura, é em média inferior à observada numa plantação pura com densidade equivalente.
O LIDAR é também uma ferramenta promissora para caraterizar com exatidão a estrutura florestal (cobertura do copado, altura, forma da copa, composição, densidade, classe de idade, etc.) através de uma reconstrução em nuvem de pontos 3D dos povoamentos. Em Espanha, onde a identificação do risco de incêndio está frequentemente ausente nos planos de gestão florestal, a cartografia do combustível, baseada em imagens de satélite, pode ser utilizada para identificar os pontos críticos da paisagem que devem ser tratados prioritariamente em termos de risco de incêndio.
Uma melhor descrição dos benefícios originados pelas florestas complexas
A diversidade em espécies de árvores origina florestas mais resistentes aos riscos abióticos. Em média, as plantações mistas sofrem menos 23% de danos do que povoamentos puros. De um ponto de vista prático, quanto mais intricada for a mistura, maior será o efeito protetor. As combinações de árvores de folha larga e de coníferas têm um melhor desempenho graças às suas características funcionais contrastantes. Diversificar 25% da superfície basal com uma segunda espécie é também suficiente para estabilizar a produtividade. Este efeito pode ser explicado pelo crescimento assíncrono das espécies, pelo ganho potencial absoluto de produtividade, e por uma melhor distribuição dos riscos bióticos.
De uma forma mais geral, estes bens e serviços prestados pelas florestas complexas à população são a base da abordagem do capital natural, que oferece oportunidades como o pagamento por serviços do ecossistema, análise de custo/benefício, avaliação de riscos, etc. Um guia para a aplicação do sistema de contabilidade do capital natural nas florestas complexas do SUDOE está disponível na Ecoacsa, apenas em Espanhol.
Infra-estruturas científicas e educativas a longo prazo
Acima de tudo, o projeto foi muito proveitoso em termos do lançamento de redes de cooperação transnacionais, que procuram estabelecer-se a longo prazo. Destacam-se os projectos COMFOR e FORMIX, que têm uma abordagem metodológica semelhante, mas domínios de aplicação complementares no estudo de florestas complexas.
-No caso de uma floresta madura que se pretende diversificar gradualmente, a rede COMFOR propõe uma metodologia de regeneração de clareiras para aumentar a complexidade estrutural e funcional. Uma nova espécie é plantada nas clareiras, mantendo as árvores de reserva. Para aderir à rede, é necessário seguir o protocolo, que requer a variação do tamanho das clareiras, a manutenção de um controlo sem plantação nas clareiras e a avaliação do desempenho da regeneração de acordo com os diferentes métodos. A rede inclui atualmente 3 povoamentos experimentais em Espanha.
-No caso da renovação por plantação em gestão regular, a rede FORMIX propõe uma metodologia para testar misturas de espécies adaptadas ao sector florestal local. Para aderir à rede, é necessário seguir o protocolo, que obriga a testar diferentes métodos de mistura, a manter controlos de cada espécie em monocultura e a avaliar o desempenho da plantação em termos de produtividade e resiliência. O sistema inclui atualmente 6 povoamentos experimentais (3 em França, 2 em Espanha e 1 em Portugal). O IEFC coordena esta rede com o INRAE, e convidamo-lo a visitar o sítio Web dedicado para saber mais. O rigor do protocolo e a comparabilidade dos resultados entre os sítios permitirão encontrar as melhores práticas para as plantações mistas que podem ser facilmente adoptadas pela indústria.y.
O nosso envolvimento no tema das florestas mistas prosseguirá, portanto, na gestão desta ambiciosa rede experimental transnacional, que poderá interessar a todos os parceiros do IEFC, quer através da realização dos seus próprios ensaios de acordo com um protocolo definido, quer através da recolha dos seus próprios dados em parcelas experimentais, quer ainda beneficiando dos dados recolhidos.
Benoît de Guerry, Engenheiro florestal, IEFC