

A madeira tem sido um material de importância vital para o Homem desde há milénios, contudo à medida que a necessidade por este recurso aumentou, a alternativa para o conseguir foi produzir árvores para madeira, em plantações, de forma a assegurar as necessidades reduzindo a pressão sobre as florestas naturais. Foram então plantadas grandes extensões de culturas mono-específicas, gerando retorno económico periódico, por vezes apenas a cada década, arriscando perdas para tempestades, pragas e incêndios. As florestas rapidamente passaram a ser reconhecidas pelos seus produtos e serviços, muito para além de madeira, fibra e lenha. Também as florestas cultivadas, frequentemente geridas para produção, de forma maios ou menos intensiva, viram os seus serviços reconhecidos sendo instaladas e geridas para proteção, conservação e/ou visando múltiplos objetivos.
As consequências das alterações climáticas, demográficas e económicas sobre os recursos naturais representam um grande desafio. As alterações climáticas, expressas através da ocorrência de secas severas, ventos fortes, precipitação intensa, incêndios extremos e/ou surtos de pragas e doenças, originam impactos acentuados, causando degradação ambiental, perda de biodiversidade e descontinuidades na sustentabilidade dos recursos. Adicionalmente, espera-se que a constante expansão da produção agrícola para suprir as necessidades de um aumento crescente da população global, particularmente em países em desenvolvimento, venha a acentuar ainda mais a pressão sobre as florestas, comprometendo a viabilidade económica e o fornecimento sustentável de produtos florestais.
Apesar de a madeira e os serviços do ecossistema serem bens de elevado valor, a economia da sua produção ainda se revela problemática, sendo a fragmentação da propriedade um dos maiores constrangimentos. Uma maior consciencialização sobre a importância e riscos enfrentados pelas florestas só será possível se estas se tornarem economicamente atrativas e mais resilientes à escala da paisagem. Para isso é necessário por um lado desenvolver políticas de compensação individual ou cooperativa que visem fomentar a provisão de serviços do ecossistema, por outro assegurar que estas sejam mantidas recorrendo a medidas de governança abrangentes, desde o povoamento à paisagem, que assegurem não só a gestão sustentável dos recursos como o aumento do crescimento económico, e a distribuição equilibrada dos benefícios de forma eficiente.
A definição de floresta plantada é bastante linear se pensarmos apenas em povoamentos puros regulares homogéneos de compasso definido, geridos de forma mais ou menos intensiva, com vista à produção de bens lenhosos e não lenhosos. Contudo o conceito de florestas plantadas tem-se alargado, incluindo por exemplo áreas de plantações mistas. As florestas plantadas, independente da sua composição, podem contribuir em processos de restauro da paisagem, contribuir para a manutenção da biodiversidade em ecossistemas mais resilientes e assegurar a provisão sustentável de serviços do ecossistema com impactos positivos quer a nível ambiental quer socioeconómico. Para enfrentar os desafios, é necessária mais investigação e que esta seja feita de forma continuada para que possamos reunir conhecimento acerca das causas e efeitos das alterações naturais e antropogénicas que enfrentamos e, a seguir, consolida-lo.
Por um lado, precisamos de investimento para o desenvolvimento de espécies/genótipos mais produtivos e resistentes a situações climáticas adversas e/ou a pragas e doenças; para a instalação de redes de parcelas permanentes e ensaios experimentais onde se estudem alternativas de gestão florestal avaliando o seu nível de adaptabilidade e resiliência às mudanças; para o desenvolvimento de ferramentas que integrem tecnologias emergentes com vista a apoiar os gestores florestais; entre outros. Por outro lado, temos de garantir que os resultados da investigação e os avanços científicos chegam a todas as partes interessadas, sendo por isso essencial que a ciência seja posta em prática.
A participação do IEFC em projetos de investigação é “um meio para atingir um fim”, facilita a transferência de experiência, boas praticas e conhecimento permitindo encurtar a distância entre a ciência e a prática. As atividades do IEFC centram-se na disseminação com vista à consciencialização, compreensão e ação recorrendo para isso a uma variedade de meios. Com a Newsletter do IEFC, remetemos as noticias mais recentes diretamente para as caixas de correio dos nossos subscritores três vezes por ano. Os webinars “Let’s talk about planted forests”, que envolvem investigadores e especialistas técnicos, permitem reunir indivíduos e organizações em discussões temáticas contribuindo simultaneamente para o trabalho em rede. Com a participação em redes de investigação, vital para reunir indivíduos com interesses comuns, potenciamos as interações, discussões e revisões de resultados da investigação (dois bons exemplos são as redes Reiinforce e Formix que visam aprofundar o conhecimento acerca da interação entre diferentes espécies e o comportamento das espécies florestais através de gradientes climáticos). A nossa iniciativa mais recente consiste no lançamento da série de Relatórios das Florestas Cultivadas, direcionados para diversos temas de investigação, mas traduzindo os conteúdos em conhecimento aplicável na prática. Os primeiros dois números vão focar-se em disponibilizar “Orientações para gestores florestais e viveiristas” e no “Melhoramento adaptativo para florestas mais produtivas, resilientes e sustentáveis num contexto de alterações climáticas” e estarão disponíveis brevemente on-line.
Para o IEFC é essencial produzir, gerir e partilhar informação sobre florestas plantadas, sobre a sua gestão e sobre os bens e serviços que delas provem. Estando envolvido em vários projetos de investigação focados nos desafios e ameaças que as florestas enfrentam, da produção de plantas melhoradas às alternativas de gestão florestal para mitigação de riscos (a)bióticos, continuamos focados na partilha de experiência e capacidades dentro da nossa rede de membros bem como com todas as partes interessadas na gestão de florestas clultivadas. Acresce às atividades já descritas a criação em 2022 do Fundo da Rede IEFC disponivel para membros com a ambição de facilitar a cooperação no tema das florestas cuultivadas e contamos em breve ver os resultados dos projetos aprovados.
Susana Barreiro, Presidente do IEFC